Luiz Sanches
Quando criança, depois daquele tempo "que menino não brinca com menina", sonhava que minha futura esposa seria como a Rapunzel, eu mataria um dragão na frente dela e a salvaria do Esqueleto, inimigo do He-Man. A maior sensação que conhecia, era ver a Priscila ou mandar uma carta de admirador secreto a ela. Hoje nem lembro como é a sua feição.
Quando pré-adolescente, logo depois de começar a escolher minhas roupas, descobri o beijo. Aí o Vitor, que era meu eterno melhor amigo, me apresentou a Gabriela. Foi com ela que tive o primeiro beijo. Esta era a maior sensação que jamais sentira. Foi ruim bater um dente no outro, mas foi bom ficar o dia todo pensando nela. Achava que iríamos casar e viver felizes para sempre, mas os nossos encontros só duraram até o fim das férias e festas de São João. Aí conheci a Marcinha quando brincávamos num lote vago. Combinamos de nos encontrar, quando a mãe dela fosse levá-la a sorveteria. Todas as vezes que saímos a Marcinha dizia que ia me dar um beijo na hora de ir embora, mas nunca deu, até o dia que disse que não estávamos mais namorando. Quase morri por ela. Pensei em suicidar tomando escondido toda a pinga do meu pai. Só consegui tomar meio gole e ficar um mês de castigo.
Já na adolescência, depois que precisava passar limão com bicarbonato debaixo do braço para não produzir odor, conheci a Paula. Tinha a turma do Marcão que era legal e faziam coisas como chegar tardão em casa. Tinha um que um dia chegou quase dez e meia. Fiquei sabendo que na verdade estava perdido e a mãe dele já tinha chamado à polícia, mas esta não era a versão oficial. A Paula era muito cobiçada por todos porque naquele tempo era a única que não precisava pedir permissão para sair de casa para onde quisesse ir e fumava. Com ela, descobri o escurinho e a "mão boba". Foi a primeira vez que toquei nos seios de uma mulher, mas não sabia bem o que fazer. Ela pedia que eu me mexesse mais, que fosse mais ousado, mas não tinha a menor idéia do que isso significava. Senti algo apertando e queimando o peito, uma inquietação insuportável, uma vontade louca de fazer sei lá o que. Era a maior sensação que conhecia. Pena que durou só uma semana... Durou até o dia que ela, junto com a turma do Marcão, caçoavam-me de achar que ela iria ficar comigo. Chorei, sonhei com planos de matar o Marcão e prometi nunca mais querer beijar outra menina. A promessa durou dois longos dias. Quanto ao Vitor, que me deu muita força e foi um amigão, mais tarde brigamos pelo amor da Jéssica, que nunca deu atenção pra nenhum de nós dois. Hoje, gostaria de saber por onde anda meu amigo. Anos mais tarde vi o Marcão na rua e perguntei pela Paula: estava grávida do terceiro filho com um outro cara, teve um problema no pulmão por culpa dos cigarros e reclamava que se sentia muito sozinha. Até hoje eu e o Marcão somos amigos. Bebemos uma cerveja e conversamos sobre mulheres.
No início da juventude, depois que comecei a beber, passar mal e mentir em casa, namorei e separei da Graziela, da Eunice e da Clara. Conheci a Helena num curso de violão. No mesmo curso tinha o Fernando, que me falou coisas horríveis da Helena e desapontado, me afastei dela. Hoje ela é administradora de uma empresa e se casou com o Fernando. Depois trabalhei e estudei... Cresci. Achava que já havia descoberto todas as sensações da vida.
Quando já era adulto, depois de me queixar de dor nas pernas e coluna, conheci a Carina, numa loja; estava irritado por ter comprado uma televisão que não funcionava, chovia e estava com contas atrasadas. Ela me atendeu tão bem que quase levei a televisão de volta. Após um ano e meio de namoro voltei a sonhar. Sonhava que casaríamos, teríamos só um filho, que faria o jantar e um cafuné na minha cabeça, domingo à noite. Hoje, estamos casados a sete anos, temos três filhas, eu faço o jantar, lavo a roupa e ela lava os pratos, quando não está de TPM.
Hoje eu sei que namorei a todas essas mulheres somente para poder saber como se deve amar minha esposa. Amei pessoas inesquecíveis. Morri de amor por quem não valia a pena. Com a Carina descobri o amor e as filhas. Ver uma filha nascer é a maior sensação que conheço. Muita coisa foi diferente do que sonhei, muito do que nunca sonhei aconteceu. Só de vez em quando, sonho um pouquinho: imagino como as minhas filhas irão se casar. Que vão encontrar um príncipe, que serão felizes, que terão um castelo e vou defendê-las dos dragões safados.