Luiz Sanches
Augusto é um
homem de negócios. Batalhou como cão em sua juventude e agora desfruta de um
emprego fixo, rentável e promissor como gerente de uma grande indústria têxtil.
Conheceu boa parte do Brasil durante viagens de negócios e numa destas viagens
foi apresentado a Isabel, com quem se casou e tem um casal de filhos. Os filhos
estudaram em boa escola e logo aprenderam de negócios. O mais velho, fez
administração e com vinte anos de idade já exercia a profissão em uma pequena
empresa, mas de renome. Como na família de Augusto a grande maioria teve que se
contentar com subempregos, Augusto e seus filhos são vistos por estes como
orgulhosos, sortudos e seu filho, como protegido do papai, que lhe deu um
emprego de "mão beijada", o que não é verdade, já que seu filho
adquiriu o emprego por conta própria.
Augusto
sabendo da dificuldade financeira do seu irmão César aproveita outra viagem de
negócios para visitá-lo e oferecer emprego aos seus filhos. Ao chegar a sua
casa, como sempre, César reclama da vida difícil e pede um dinheirinho
emprestado, algo como uns dois mil reais. E como sempre também, Augusto nunca
empresta, mas oferece uma oportunidade de estudo a César e seus dois filhos. César
reclama de já estar velho demais e não ter paciência para estudar e que seus
filhos não precisam de estudo, precisam sim é de um bom emprego e que remunere
bem. Augusto, já aguardando esta resposta, chama os rapazes, de vinte e um e
dezoitos anos e lhes oferece primeiramente estudo. Os rapazes só querem saber
de computador e baladas. Augusto oferece emprego, mas nem sequer se preocupam
em dar prosseguimento à conversa. César reprime os rapazes que apelam dizendo
ao pai que este deve prover o sustento da família e não eles. Augusto, sem
sucesso, resolve passear algumas vezes na cidade com os rapazes e aos poucos
tenta os convencer do emprego ou do estudo, mas relutam e aceitam somente que o
tio lhes pague a cerveja.
Numa das
saídas à cidade, porém desta vez sozinho, Augusto vai a uma pizzaria ao ar
livre e repentinamente vem ao seu encontro uma moça vendendo flor, bonita,
maltrapilha e esfomeada. Claro que Augusto não tinha a quem oferecer a flor e
logo descartou a compra, mas a moça perguntou: "o senhor vai comer o resto
da pizza? É que estou com fome!". Sem entender ao certo o que comandou a Augusto,
este diz à moça que pode se assentar e comer. Sem vergonha para pedir, mas em
excesso para se assentar, a moça come em pé e sabe-se lá porque, permanece
comendo ali. Logo sai, profundamente agradecida e apresada para vender um mínimo
de flores nesta noite. Augusto observa e reflete no que é a vida. Como pode a
vida amargurar a quem deseja lutar e abastar a quem pouco se importa. Reflete
no que ele pode oferecer a alguém desconhecido. Porque insistir em ajudar a
quem não quer? Porque é parente e mesmo não tendo retorno financeiro, terá
prestígio e admiração? Sentir-se-á antes os seus como o provedor? Vale a pena?
Alcançará estes objetivos inúteis? Augusto se levanta rumo à moça e lhe
pergunta se quer emprego. O que ele não esperava era dele ser surpreendido. A
moça é uma repórter disfarçada fazendo uma matéria sobre moradores de rua. Augusto
apareceu na televisão. A família toda o viu como um bem feitor.
Seus
sobrinhos, por outro lado, ficaram chateados de não serem convidados para aparecerem
neste dia. Augusto volta para São Paulo como o tio que se esqueceu dos
sobrinhos e seu irmão não lhe dirigiu mais a palavra, que o considerou como
orgulhoso por querer aparecer sozinho na televisão: "porque não chamou
meus filhos neste dia, seria tão bom para eles"... reclamou sempre deste
este dia em diante César, pelas costas de Augusto.
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