quarta-feira, 18 de abril de 2012

Jorge, o chifrudo



 Luiz Sanches

Eu e a Lívia, minha esposa, já não andávamos lá aquele romance a um bom tempo. Tínhamos três filhos e contas para pagar. Por vezes, durante a madrugada, ela falando dormindo, chamava um tal de Ricardo e dizia que Ricardo é forte e musculoso, que Ricardo era homem de verdade, que Ricardo isso, que Ricardo aquilo. Eu não aceitaria um chifre de modo algum, mas não a perguntava quem é o tal Ricardo. Queria pegá-la de surpresa. Se eu achasse esse vagabundo, o mataria com suas próprias tripas... Não, isso é muito violento pra mim... O estrangulava com... Não... Eu brigaria com ele... Não... Ficaria com ciúmes. Isso! Safado!
Peguei o nome de todos que moravam lá perto de casa, inclusive o açougueiro, o pintor, o farmacêutico e ah, nunca confie no cabeleireiro. Nunca confie! Ha alguns que fingem que não gostam de mulher só pra levá-las para o fundo da loja e conversar quietinho. Por isso que eu gosto é daqueles que gostam de homem. Não, espera aí, eu to falando do cabeleireiro. Inclusive, fui pessoalmente saber do cabeleireiro dela e perguntei a atendente:
-Moça, qual o nome do cabeleireiro?
-Qual deles senhor?
Aí eu fui direto, com voz firme e cabeça erguida: -O Ricardo, quero falar com ele agora!
-Senhor, não temos nenhum Ricardo aqui. O senhor quer falar com outra pessoa?
-Han... eu quero falar com aquele grandão ali, do cabelo dourado, que ta fazendo o... ah... aquilo no cabelo da moça.
-Ah sim. Ele está ocupado agora, mas se quiser deixar o seu telefone...
-Quero sim! -Respondi rápido sem deixar a atendente terminar.
-Eu tenho certeza que ele irá te ligar, pois hoje cedo ele estava reclamando que está sozinho a um bom tempo e quer uma pessoa inteligente como o senhor para romance sério.
Esse episódio foi horrível, mas a minha luta para descobrir quem é o safado do Ricardo não parava por aí. Fui ao mecânico. Lá o Serjão me falaria se viu alguma atitude suspeita da Lívia.
-E aí Serjão, tá de boa véi?
-Só cara! Veio trazer aquele carango?
-Não, agora ele ta funcionando direitinho.
-Ah, então ta melhor que você, se é que você me entende, hahaha.
Ele sabe de algo, ele sabe de algo, eu sei que sabe. Pensei irritado.
-Pára de brincadeira e me diz uma coisa. Tipo assim, cê sabe né... Num é que eu tô pensando... Mas vai que... assim, tipo, pode ser que, só uma suposição...
-Fala logo, ó beiço caído!
-É que assim... Você viu a Lívia conversando com um tal de Ricardo aqui?
-Não, porque?
-É que eu to procurando ele. Você sabe de alguém assim forte, musculoso?
-Sei.
Pronto, havira achado o vagabundo!-Pensei.
-Se quiser eu posso te apresentar vários, você gosta dos altos ou dos baixos?
A minha vontade era de socar o Serjão, mas saí de lá direto para a casa da Zeila, amiga da Lívia. Zeila é uma mulher feia até no nome.
-Então você tá ganhado um chifre né? -Dizia ela parecendo que adorava saber da notícia, e continuou: Olha, um homem sem chifre é um homem indefeso, hahaha. Não se preocupe querido, depois de um vem outro! Na cabeça sempre sobra espaço, você vai ver, se não tampar a sua visão, claro, hahahaha.
-Você não vai me ajudar em nada, velha da cara pintada!-Saí de lá xingando nomes que nem me lembro.
-Pintada, mas sem chifre, querido. Opa, cuidado para não bater o chifre na porta... ai, bateu, mas não preocupa querido, se quebrou tem como colocar outro, hahaha.
Foi uma lastima conversar com a Zeila. Em pouco tempo toda a vizinhança já sabia do fato. Cheguei a ganhar um chapéu com chifres no trabalho e me perguntava como eles descobriram? E o pior é que eu era o único sem saber quem é o tal de Ricardo!
Numa noite, acordo eu para tomar água e quando volto está Lívia falando dormindo o nome do Ricardo. Colei o ouvido e ela dizia: "vai, com essa maquiagem, faz isso, Ricardo, vai..." Maquiagem? Ricardo era o maquiador? Estava resolvido! Naquela noite nem dormi, pensando no que iria fazer com esse maquiador safado.
Marquei um horário no salão onde a Lívia maquiava-se e lá tinha um tal de Ricardo. Agora ele vai ver uma coisa! Esperei um pouco e me aparece um homem moreno alto, musculoso e voz grave. Fiquei sem saber o que falar. Dava medo um homem daquele tamanho; se o encarasse numa briga estaria em desvantagem. Desenvolvi uma nova estratégia para conhecê-lo. Disse que queria fazer uma maquiagem e enquanto conversávamos, descobriria o seu rolo com Lívia. Certo é, fiz a maquiagem, tá... fiz... E o Ricardo é até um cara bacana e engraçado, não poderia defrontá-lo. Mas descobri que realmente tinha um rolo com Lívia. Após o ensejo resolvi terminar o casamento com ela e hoje vivo feliz da vida com o Ricardo, amor da minha vida.

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