quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Paulinho, o distraído



Luiz Sanches

Eu namoro a Regina, que só gravei o seu nome após uma longa discussão para convencê-la que a chamei de Renata por engano, por ser eu muito distraído. Quase a discussão não se estende mais, pois por distração ia lhe perguntei por que estava morena no segundo encontro, já que era loira no primeiro. 

A patrícia, ops, me engano, a Regina, aceitou que eu fosse ao trabalho do pai dela para conhecê-lo pessoalmente. Li, certa vez, que seria interessante ao se conhecer uma pessoa da qual queremos prestigiar que compremos algo que ela venda. Como lá é um consultório médico, aproveitei para marcar uma consulta. Assim, prestigio o Seu Alceu pagando por uma consulta, o conheço pessoalmente e mais: trato com ele o meu problema de ejaculação precoce! Bom, liguei mais cedo para ele para informar que iria conhecê-lo e a sua secretária prontamente me atendeu, com uma voz maravilhosa. Imagino que seja linda e quase lhe dei uma cantada pelo telefone, quando me lembrei que já tinha namorada. Ufa! Quase me dou mal!

Estava cansado, porque eu me enganei achando que o bairro do trabalho dele era visinho ao meu. Cheguei cedo, queria ter a certeza que tinha marcado a consulta para as dezoito horas. Eram umas duas horas... ou dezesseis... por aí... Um homem atendia no balcão. Perguntei-lhe pela secretária que me atendera no telefone e ele me respondeu que só ele trabalhava lá de secretário. Gente, eu juro que a voz no telefone era de mulher! Mas tudo bem. Era terça-feira e enquanto aguardava, via o Faustão na televisão, mas alguma coisa me dizia que algo estava errado! O Faustão não tinha morrido? - "Paulo Silveira da Silva Silva", gritou o secretário, após a saída de uma paciente do consultório. Tinha um Silva a mais no meu nome, será que ele se enganou? Entro no consultório. Como poderia começar a conversa? Dizendo "olá meu querido sogrão!"? Preferi fazer-lhe uma surpresa; consultaria primeiro e me apresentaria depois. Assim ficava mais fácil para pedir que não se zangasse por eu me esquecer de trazer o dinheiro para pagar a consulta.

-Entre senhora, pode se sentar. - "Senhora", disse ele? Como assim?
-Desculpe doutor, o senhor se distraiu, sou homem e muito por sinal, já fiquei com mais de dez mulheres em uma só noite, tudo bem que umas se repetiram, mas eu sou muito homem! -Por um segundo me veio à cabeça: o que estou dizendo para o pai da minha namorada?
-Oh, bom, desculpe, arrr... Senhor... Paulo? Paulo Silveira da Silva Silva? -Olhou o doutor o prontuário com a mão trêmula e a testa franzida. - Desculpe-me senhor, é que sempre consulto mulheres. Peço perdão. - Continuou, quase sussurrando.
-Como assim atende somente mulheres? Eu vim tratar de... do que era mesmo?
-Sim, só atendo mulheres, pois sou ginecologista.
Tive que pensar rápido! Como fui distraído! Marquei a consulta, mas não perguntei a especialização dele?
-Na verdade doutor, eu marquei uma consulta com o senhor porque eu queria conhecê-lo pessoalmente. Sou o namorado da sua filha.
-Você? Namorado da minha filha? - Respondeu quase como um cão feroz. - Seu tarado, maluco!
-Desculpe doutor, ela também quis, eu não insisti! - Estava sem entender nada!
-Como assim??? Vou chamar a polícia! Minha filha só tem 10 anos! Seu Alceu, venha cá imediatamente.
-Seu Alceu, como assim? O doutor não é o Seu Alceu?
-Não, sou o Doutor Epaminondas... Seu Alceu é este aí - E apontava para o porteiro.
-Seu Alceuuuu!!! -Respondi logo de braços abertos - Eu sou o... que mesmo? Ah é... Sou o namorado da sua filha, vim te conhecer.
-Minha filha disse que você viria hoje para me conhecer. Ela não te disse que eu sou o porteiro?
-Ela disse? Respondi imediatamente. E continuando falei mais: - Ela não falou nada! Que vergonha que passei! Isso pra mim é um absurdo! Eu não posso aceitar namorar uma mulher tão distraída que não pode dizer-me que o pai é o porteiro. Quer saber? Se quiser, namore você com ela, porque eu não quero mais! - E saí imediatamente dali.

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