Luiz Sanches
Certa vez vi
meu filho entrando em casa bêbado, sempre recriminei tal atitude. Certo é, não
suporto um bêbado. Passou crendo-se invisível pela entrada dos fundos e de
imediato se dirigiu ao quarto, sem olhar para trás. Sou um homem dado ao
trabalho, sustento esta casa e, suportar um filho bêbado, é demais. Com o meu
dinheiro, pior ainda!
Desta vez,
procurei ser diferente, nem sei por quê! Sempre repreendia severamente meus
filhos por não estudarem, sofrerem infração de trânsito ou outras coisas. Desta
vez quero ser diferente, quero agir com calma. Minha esposa ainda está no
doutorado, minha filha na faculdade ou na vagabundagem e o Marcos, ele me disse
aonde ia, mas não me lembro. Somos só o Junior, bêbado, por sinal, e eu. Não
vou recriminar desta vez. Meu trabalho está adiantado e se eu passar a noite
conversando com ele ainda posso terminar a tempo.
Segui o
corredor que leva ao quarto do Junior no escuro. Parei frente à porta do seu
quarto e tentei escutar qualquer barulho. Somente o tique-taque do relógio da
ante-sala chamava a atenção no meio da noite. Acho que deseja esconder a sua
vergonha.
- Junior! - batia
a sua porta - posso entrar?
-Ah? Papai?
Ah, pode? "Po-po-pode"... - Respondia Junior com voz trêmula e assustada.
Abri a porta
e me deparei com o quarto todo revirado. Coisa incomum no Junior, porque é um
garoto exímio, sempre elogiado pelas visitas que recebo. Ele possui uma
organização natural. Junior é um exemplo mesmo para mim, que fui amparado por
livros de organização em empresas, organização no lar, logística, etc. Já há
muito notara que às vezes somos mais dedicados na empresa que em casa, dado que
me enfurecia a desorganização da empresa onde trabalho, mas não o meu quarto
desorganizado.
-Olá filho,
como está? - Não sabia ao certo o que falar.
Quase o
obrigara arrumar o quarto, mas lembrei que desta vez desejava uma didática
diferente.
- Bem pai.
Eu senti que
esse bem não estava tão bem. Tinha que me tornar um Sherlock Holmes neste
instante e entender precisamente o que estava acontecendo. Não sabia qual seria
a próxima frase. Cheguei ali com a meta de não repreendê-lo pela bebedeira e
ele me disse "-bem pai". Me desarmou. De repente percebera que
somente sabia repreender, não ouvir.
- Você tem
tocado sua guitarra? - Emiti essa frase quase que automática.
- Não.
Ai, o que eu
falo agora? Repreender é bem mais fácil.
- Posso
sentar na sua cama?
- Tá
desarrumada... Pai, o meu quarto está uma bagunça, tá feio. Quem sabe amanhã?
Sentei-me na
cama, que por sinal, desarrumada, estava mais arrumada que a minha. Sem dizer
nada, rapidamente, Junior queria arrumar, mas a bebedeira o impediu.
- Junior, meu
filho, estou vendo que você está bêbado, não precisa chegar em casa assim, você
tem...
- O que você
tem com isso? Rapidamente Junior me interrompeu.
Repreensão
não, refleti prontamente. Não tínhamos muitas conversas, mas me responder assim
é demais. Suspirei e consegui me acalmar, afinal, ele estava bêbado. Junior nunca
me respondia mal...
- Junior,
sente-se aqui ao lado do seu pai.
Não esperava
que ele se sentasse, mas sentou e com lágrimas nos olhos. Quando eu tinha visto
isso? Lágrimas, do Junior? Não entedia o que estava acontecendo.
- Que foi
Junior?
- Nada não.
- Pode falar.
- Houve um grande silêncio. Esperei calmamente a resposta.
- Eu não
queria ver a minha mãe e o senhor se separarem!
Como um raio,
fui atingido. Não sabia o que falar. Realmente, já pensava em separação.
- Amo muito o
senhor. - Junior me abraçou - Sei que você não sabe lidar comigo e o Marcos,
mas mesmo assim te amo e não quero te ver longe. Sei que você trabalha muito
por nós. Sei que você tem a cara fechada, mas nos ama! Se você se separar da
mamãe, não sei por quem escolher. Prefiro escolher os dois!
Ele tem 17
anos e parecia uma criança. No mesmo dia, tive uma conduta: não repreendi minha
esposa. Conversarmos a noite inteira. O dia raiava e ainda conversávamos. Fui
receptivo. Nem lembrei-me do meu trabalho... Pra falar a verdade, pedi férias!
Queria curtir a minha esposa e filhos, porque descobri o novo dentro da minha
casa. Quando não há competitividade, lutas, poder ou repreensão, e sim, amor.